sábado, 10 de janeiro de 2015

#31 - MULTIDÃO, Ada Negri

Uma folha tomba no plátano, um frémito sacode o imo do cipreste,
És tu que me chamas.

Olhos invisíveis sulcam a sombra, penetram-me como à parede os pregos,
És tu que me fitas.

Mãos invisíveis nos ombros me tocam, para as águas dormentes do lago me 
                                                                                                [atraem,
És tu que me queres.

De sob as vértebras com pálidos toques ligeiros a loucura sai para o cérebro,
És tu que me penetras.

Não mais os pés pousam na terra, não mais pesa o corpo nos ares, transporta
                                                                                 [-o a vertigem obscura,
És tu que me atravessas, tu.


(versão de Jorge de Sena)

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